Wednesday, February 14, 2007

Lição sobre a água

Lição sobre a água
Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

Suspensão Coloidal

Suspensão Coloidal
Penso no ser poeta, e andar disperso
na voz de quem a não tem;
no pouco que há de mim em cada verso,
no muito que há de tudo e de ninguém.

Anda o cego a tocar La Violotera,
e eu a vê-lo e a cegar;
e a pobre da mulher esfregando e pondo a cera,
e eu a vê-la, e a esfregar

Que riso perto, que aflição distante,
que infíma débil, breve coisa nada,
iça, ao fundo, esta draga carburante,
rasga, revolve e asfalta a subterrânea estrada?

Postulados e leis e lemas e teoremas,
tudo o que afirma e fura e diz sim,
teorias, doutrinas e sistemas,
tudo se escapa ao autor dos meus poemas. A ele, e a mim.

Lágrima de preta


Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

Estrela da Manhã

Estrela da Manhã
Numa qualquer manhã, um qualquer ser,
vindo de qualquer pai,
acorda e vai.
Vai.
Como se cumprisse um dever.

Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos;
nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar.
E em seu impessoal desejo latejam todos os restos
de quantos desejos ficaram antes por desejar.

Abre os olhos e vai.

Vai descobrir as velas dos moinhos
e as rods que os eixos movem,
o tear que tece o linho,
a espuma roxa dos vinhos,
incêncio na face jovem.

Cego, vê, de olhos abertos.
Sozinho, a multidão vai com ele.
Bagas de instintos despertos
ressuma-lhe à flor da pele.

Vai, belo monstro.
Arranca
as florestas com os teus dentes.
Imprime na areia branca
teus voluntariosos pés incandescentes.



Vai

Segue o teu meridiano, esse,
o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais;
o plano de barro que nunca endurece,
onde a memória da espécie
grava os sonos imortais.

Vai

Lábios húmidos do amor da manhã,
polpas de cereja.
Desdobra-te e beija
em ti mesmo a carne sã.

Vai

À tua cega passagem
a convulsão da folhagem
diz aos ecos
«tem que ser».

O mar que rola e se agita,
toda a música infinita,
tudo grita
«tem que ser».

Cerra os dentes, alma aflita.
Tudo grita
«Tem que ser».

Poemas escolhidos

António Gedeão, tem uma obra muito extensa dessa obra seleccionei alguns que gostei mais... o meu preferido, como já tinha referido, é a Pedra Filosofal:
  • Estrela da Manhã
  • Lágrima de Preta
  • Suspensão coloidal
  • Lição sobre a água

Pode um Poeta Morrer?

A "morte" de António Gedeão deu-se em 1984, com o lançamento de Poemas Póstumos, por decisão do seu autor, Rómulo de Carvalho.

  • "Agora é melhor morrer..." (disse Rómulo de Carvalho em relação ao seu pseudónimo António Gedeão)
Para Romulo de Carvalho isto significa que ja tinha dito tudo, tendo presente que o objectivo do autor era sobretudo ser útil: "a partir de certa altura, repete-se tudo, então, já não vale a pena."

Sobre o progresso científico...


A Humanidade conserva-se igual a si mesma.”
“Todas essas descobertas no campo da Física e da Astronomia. Os processos modernos, que permitem ver cada vez mais longe, imaginando como é que o universo se organizou e se expande. Isso impressiona imenso. O que seria o Universo? E nós, que temos tendência a acreditar que tudo tem um princípio.”

in Jornal de Letras, Ano XVI, nº 680, 6 a 19 de Novembro, 1996

Será que a sociedade humana evolui?


"Fala do Homem Nascido" - Da Livraria para a Discoteca


Para além de ter inspirado muitas pessoas na escrita também inspirou na musica...
José Nisa, em Novembro de 1972, produziu um álbum interpretado por Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha. Este foi gravado em Lisboa e em Madrid. Em 1998 foi feita a reedição do álbum em formato de CD.
Poemas/Temas do álbum:
Estrela da Manhã, por Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha
Fala do Homem Nascido, por Samuel
Desencontro, por Samuel, Tonicha
Tempo de Poesia, por Duarte Mendes
Vidro Côncavo, por Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha
Poema da Malta das Naus, por Samuel
Lágrima de Preta, por Duarte Mendes
Poema do Fecho éclair, por Carlos Mendes
Calçada de Carriche, por Carlos Mendes
Poema da Auto-estrada, por Tonicha
Poema da Pedra Lioz, por Samuel

A Música das Palavras de António Gedeão


Diz José Nisa (compositor que musicou vários poemas de Gedeão):

" António Gedeão, aliás, o professor Rómulo de Carvalho, é duas pessoas: o Poeta e o Cientista. Quem conheça o seu belo poema "Lágrima de Preta" perceberá como se pode criar poesia num laboratório e fazer a fusão das palavras com os reagentes. Penso que terei sido eu o compositor que mais poemas de Gedeão musicou.
(...)
É que para além da sua beleza simples, da sua estrutura e do seu rigor «científico», a poesia de Gedeão é, sobretudo, musical: as palavras, a sequência das palavras, já vêm envolvidas e embaladas em música e tornam fácil e fluente a invenção das melodias e das harmonias.
(…) Daí que Gedeão- talvez sem o saber- é, para além de poeta, para além de cientista, também músico e compositor, porque a música já vem com as palavras.
E que palavras!"
in Jornal de Letras, Ano XVI, nº 680, 6 a 19 de Novembro, 1996

O professor, historiador e cientista


Romulo de carvalho foi para muitos, mais do que um professor...foi um mestre.
Como ele mesmo dizia: "Ensinar é tornar as coisas mais comuns do mundo em objectos de contemplação e reflexão"
(GEDEÃO, António, 51v 3 poems and other writings, organizado por A. M. Nunes dos Santos, 1ª edição, Viseu, FCT da Universidade Nova de Lisboa,1992, 11p.)

"Ensinar não se trata de transmitir conhecimentos, ou de desfiar um rosário de informações. O que está em causa, no ensino das ciências, é suscitar a curiosidade, é fomentar a imaginação, usando como ferramenta uma conjectura que se propõe ao aluno, que a ele adere, recriando-a, porque a «descobre».
Devo dizer que a necessidade de procurar o significado físico das coisas nunca mais abandonou. Certamente porque a confiança no prazer dessa «experiência de descoberta», que foi tão grande no seu início, aconselhou a sua prática sistemática, criou uma marca, um procedimento de escolha face às incertezas do futuro."
(João Caraça - Instituto Superior de Economia e Gestão; in: CARAÇA, João, in Gazeta de Física, Experimentação e Aprendizagem nas ciências, Vol.20, Fas.1,s.l., Janeiro/Março, 1997).

A dinâmica da Experimentação na sala de aula

  • "O átomo começou por ser uma hipótese, uma suposição simplesmente cómoda para tornar mais fácil a interpretação do Universo, e acabou por ser um 'objecto', uma 'coisa', que se pode dirigir, dominar, criar e destruir. E assim sucedeu com o átomo: nasceu na imaginação e, afinal, existia." (Rómulo de Carvalho, "História do Átomo", Atlântida Editora, Coimbra, 1975; In artigo "Os meus livros favoritos de Rómulo de Carvalho", págs. 15 a 17, Gazeta de Física, vol. 20, fasc. 1, Janeiro/Março, 1997)

    "Falar apenas certamente faria adormecer os alunos. Convinha ilustrar aquilo que se dizia. E as experiências são muito atraentes. Além daquilo que se quer provar, há sempre pormenores, coisas originais, que os alunos vão descobrindo. Acho que o recurso à experiência é fundamental para o ensino. Pelo menos na Física e na Química. Eu mesmo imaginei muito material para as minhas experiências. Quando estava no Pedro Nunes, pedi ao reitor que pusesse uma mesa de carpinteiro no laboratório de Física. Construía muitos objectos necessários que não havia no liceu. E imaginava outros". (“Rómulo de Carvalho"; in Jornal de Letras, Ano XVI, nº 680, 6 a 19 de Novembro, 1996)

Poesia e Cidadania


A utilidade da poesia e do exercicio da cidadania, foi mostrada por Rómulo de Carvalho nos seus livros científicos; revelando a sua faceta de pedagogo, conseguiu tornar mais fáceis de compreender temas e problemas bastante complexos. Mas foi sobretudo enquanto poeta que a sua mensagem mais tocou a sociedade:

  • Rómulo de Carvalho: "Ainda bem que fui útil. O primeiro desejo da minha vida foi o de ser útil em tudo o que fizesse. (…) A minha estrela polar é esse desejo inatingível da Humanidade melhorar nos sentimentos e na forma de actuar.” (In Jornal Diário de Notícias, Lisboa, nº46006, ano 131, 9 de Março, 1995)
  • "Pretende o autor, com a presente obra, erguer, aos olhos do leitor, a pessoa do poeta como um ser atento aos acontecimentos que o rodeiam, e envolvem, no ambiente social em que o poeta se movimenta. (...) Sem dúvida, pensamos nós, que qualquer texto poético constitui um documento social na medida em que o assunto de que trata, os termos em que é redigido, a escolha dos vocábulos que utiliza, a sua ordenação formal, o seu ritmo ou falta dele, a sua intencionalidade, tudo são sinais definidores de uma sociedade determinada." (CARVALHO, Rómulo, O Texto Poético como Documento Social - Palavras prévias,1ª edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Outubro, 1994)

Entre a Ciência e a Literatura

Quando estudava no Liceu, Rómulo de Carvalho encontrava-se confuso pois não sabia se havia de escolher a área da literatura ou das ciências. A escolha não foi fácil, e Rómulo acabou por decidir-se pela área das Ciências Físico-químicas, considerando que, para além de poder ser mais segura do que a área das letras (financeiramente), permitir-lhe-ia, mais facilmente, dedicar-se também à poesia (o contrário, ser de letras e dedicar-se à poesia, seria menos provável).
Sem se arrepender da sua escolha, Rómulo de Carvalho dedicou toda a sua vida à Ciência e à Literatura, dois campos,muito distintos mas que se completam, segundo ele.

  • “Fiz a minha escolha [de ser professor] , depois de ter lutado muito comigo. Uma luta difícil, principalmente por causa da família, que procurava que eu me decidisse por outros caminhos, de modo a tirar mais lucros e segurança E, através delas, descobri o sentido da comunicação e da utilidade para os outros.”

Obra literária

Romulo de Carvalho têm um grande obra...Não só a nível de dimensão mas também a nível de valor...
Obra literária
Poesia:

* Movimento Perpétuo,1956
*
Teatro do Mundo, 1958
*”Declaração de Amor", 1959
*
Máquina de Fogo,1961
* Poesias Completas, 1964
* Linhas de Força, 1967

* "Soneto", 1980
*
"Poema para Galileu", 1982
*
Poemas Póstumos,1984
* Poemas dos textos", 1985
*
Novos Poemas Póstumos,1990

Ficção:
*
A Poltrona e Outras Novelas,1973

Teatro:
*RTX 78/24, 1978
*História Breve da Lua, 1981

Ensaio:
* "O Sentimento Científico em Bocage", 1965

* "Ay Flores, Ay flores do verde pino", 1975

Obra Científica

Livros de Carácter didáctico e pedagógico:
* ”Regras de notação e nomenclatura química” (artigo), 1950
* ”Considerações sobre o ensino elementar da Física” (artigo), 1952
* Compêndio de Química para o 3º Ciclo, 1953
* ”Experiências escolares sobre tensão superficial dos líquidos e sobre lâminas da solução de sabão” (artigo), 1957
* Guias de trabalhos práticos de Química [3º Ciclo], 1957
* ”Acerca do número de imagens dadas pelos espelhos planos inclinados entre si” (artigo), 1959
* ”A física como objecto de ensino” (artigo), 1959
* Problemas de Física para o 3º Ciclo do Ensino Liceal, I volume, 1959
* ”Considerações sobre o princípio de Arquimedes” (artigo), 1961
* ”Novas maneiras de trabalhar com os tubos de Torricelli” (artigo), 1962
* ”Novo sistema de unidades físicas” (artigo), 1962
* ”Novo dispositivo para o estudo experimental das leis de reflexão da luz” (artigo), 1963
* ”Sobre os compêndios universitários exigidos pela Reforma Pombalina” (artigo), 1963

* ”O ensino elementar da Cinemática por meio de gráficos” (artigo), 1964
* ”Teoria e prática da ponte de Wheatstone” (artigo), 1964
* ”La formation du professeur de physique” (artigo), 1965
* Ciências da Natureza,1974
*Aditamento ao guia de trabalhos práticos de Química, 1975


Divulgação Cientifica:

* Colecção Ciência para Gente Nova

  • "Escrevi esses livros porque senti que os meus alunos se sentiam abandonados. O que quis dizer é que a ciência estava a ser-lhes ensinada a partir de grandes compêndios que dispensavam a ciência como se esta pudesse ser ensinada na forma de um comprimido que se engole”.
  • História do Telefone, 1952
  • História da Fotografia, 1952
  • História dos Balões, 1953
  • História da Electricidade Estática, 1954
  • História do Átomo, 1955
  • História da Radioactividade, 1957
  • História dos Isótopos, 1962
  • História da Energia Nuclear, 1962

* Ciência Hermética, 1947
* Embalsamento Egípcio, 1948
* “Sr. Tompkins explora o átomo", 1956
* Que é a física?, 1959

* A Física para o Povo, 1968
* A Descoberta do Mundo da Física, 1979
* A Experiência Científica, 1979
* A Natureza Corpuscular da Matéria, 1979
* Moléculas, Átomos e Iões, 1979
* A Energia, 1980
* A Estrutura Cristalina, 1980
* As Forças, 1980
* As Reacções Químicas, 1980
* O Peso e a Massa, 1980
*A Composição do Ar, 1982
*A Electricidade Estática, 1982
*A Pressão Atmosférica, 1982
*A Corrente Eléctrica, 1983
*A Electrónica, 1983
*Magnetismo e Electromagnetismo, 1983
*A Energia Radiante, 1985
*A Radioactividade, 1985
*Ondas e Corpúsculos,1985

A investigação Histórica não ficou de parte, mas maior parte do que foi escrito são artigos:


* "Ferreira da Silva, Homenagem da Ciência e de pensamento 1853-1923 (artigo)", 1953
* "A pretensa descoberta da lei das acções magnéticas por Dalla Bella em 1781 na Universidade de Coimbra" (artigo), 1954
*"Presença de Descartes" (artigo), 1950
*"No primeiro centenário de Lorentz" (artigo), 1953
*"Portugal nas 'Philosophical Transactions' nos séculos XVII e XVIII" (artigo), 1956
*"Albert Einstein (1879-1955)" (artigo), 1956
*"Joaquim José dos Reis, construtor das máquinas de física do Museu Pombalino da Universidade de Coimbra" (artigo), 1958
*História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa [1765-1772], 1959
*"Posição histórica de invenção do nónio de Pedro Nunes" (artigo), 1960
*"Homenagem a Pascal, 3º centenário" (artigo), 1962
*"Apontamentos sobre Martinho de Mendonça de Pina e de Proença [1693-1742]" (artigo), 1963
*"Leonis de pina e Mendonça, Matemático Português do século XVII?" (artigo), 1964
*"Breve desenho de educação de um menino Nobre" (artigo), 1965
*"Relações científicas do astrónomo francês Joseph-Nicolas de L'Isle com Portugal" (artigo), 1967
*"A física na Reforma Pombalina" (artigo), 1968
* História do gabinete de Física da Universidade de Coimbra [1772-1790] - desde a sua fundação em1772 até ao Jubileu do Prof. Giovani António Dalla Bella, 1978

*Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII, 1979
*A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências da Lisboa nos Séculos XVIII e XIX, 1981
*A Física Experimental em Portugal no Século XVIII, 1982
*A Astronomia em Portugal no Século XVIII, 1985

* História do Ensino em Portugal, desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar-Caetano, 1986
* O Texto Poético como Documento Social, 1994

Biografia: O Poeta

Rómulo de Carvalho, embora continuasse sempre a trabalhar, cada vez mais, nas Ciências, não se esqueceu das palavras... Continuava a escrever poesia, mas como achava que as suas poesias não iriam ser úteis para ninguém, em vez de as publicar, destruía-as.
Só aos 50 anos, em 1956, é que, depois de ter participado num concurso de poesia, decide publicar o seu primeiro livro de poemas “Movimento Perpétuo", sob o pseudónimo de António Gedeão.

Este livro foi bem sucedido, e António Gedeão continua a publicar poesias e, mais tarde, decide arriscar no teatro e na ficção.

Há quem afirme que “nos seus poemas dá-se uma junção perfeita entre a Ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança”.

Rómulo de Carvalho sentia-se profundamente tocado pelos valores que expressava enquanto poeta e assim conseguia acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. Por isso, a sua poesia marca de forma especial a geração que viveu o regime ditatorial e a guerra colonial. E é deste modo que " Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho.

Em 1984 António Gedeão “morre”, por decisão do seu autor, com a publicação de Poemas Póstumos e, mais tarde, Novos Poemas Póstumos. Exemplo de um extracto de uma entrevista que ilustra esta opção:


  • Diário de Notícias - Poemas Póstumos significam o fim da sua poesia?
    Rómulo de Carvalho - Significou que o autor já havia tomado consciência (que nem todos os autores têm) de que já tinha dito tudo. Poderia tornar a escrever, mas para repetir. Especialmente na poesia, a partir de dado momento, os poetas passam a dizer as mesmas coisas.

    (In SILVA, Maria Augusta, Diário de Notícias, Ano 131, nº46006, 9 de Março, 1995)

Biografia: Cientista e Professor


Licenciou-se, em 1931, em Ciências Físico-Químicas, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. No ano seguinte, na mesma Universidade, fez o Curso de Ciências Pedagógicas, na Faculdade de Letras.

Durante 40 anos exerceu a profissão de professor (14 anos no Liceu Camões, 8 anos no Liceu D. João III, em Coimbra, os restantes, no Liceu Pedro Nunes).

Rómulo de Carvalho sempre afirmou que ensinar era uma paixão. Como ele mesmo disse:”ser Professor tem de ser uma paixão - pode ser uma paixão fria mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação.”

A partir de 1946, concentrou-se no ensino, dedicando-se, à elaboração de compêndios escolares, que surpreenderam pela forma simples e ilustrada de abordar matérias tão complicadas como a física e a química. À medida que os anos foram passando a sua dedicação foi aumentando, mas em 1952,chegou ao auge: fez uma divulgação científica, tornando ainda mais acessível, de modo a que todos pudessem compreender a Física e a Química. Esta colecção, foi chamada de: Ciência para Gente Nova.
Rómulo de Carvalho nunca parou de trabalhar até ao fim dos seus dias, deixando obras concluídas mas por publicar, que mais tarde se juntaram à sua longa obra. Uma constante da vida de Rómulo de Carvalho foi a dedicação à ciência e a sua história.

Biografia: Infância e adolescência

Viveu com os pais e irmãs na Rua do Arco do Limoeiro (actualmente, Rua Augusto Rosa). O pai era funcionário dos correios e telégrafos e a mãe dona de casa. Apesar de ter apenas a instrução primária, a mãe tinha paixão pela literatura e, por isso, teve uma influência grande, “contagiando” o filho.

Rómulo de Carvalho foi uma criança bastante avançada, pois aos 6 anos escreveu o seu primeiro poema e aos 10 decidiu completar "Os Lusíadas" de Camões.
Embora gostasse imenso da área de letras, como era notório, ao entrar para o liceu Gil Vicente, descobriu uma nova paixão: as ciências. Este interesse foi-se desenvolvendo ao longo dos anos, mas só se tornou predominante no seu último ano de liceu.

Biografia

Na freguesia da Sé de lisboa, no dia 24 de Novembro de 1906 nasceu Rómulo Vasco da Gama de Carvalho um poeta, escritor, professor e cientista e historiador, uma criança que dali a muitos anos havia de se revelar muito útil para a Sociedade.

Desde 1906 até 1931 teve o seu processo de crescimento e formação.
Depois, até 1974, exerceu brilhantemente a sua missão como professor, que reforçou com a publicação de obras científicas e didácticas, sobretudo para jovens.
Embora a escrita sempre tivesse estado presente na sua vida, só a partir de 1956 assume publicamente esses dotes de poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão (que por decisão do seu autor, Rómulo de Carvalho, "viveria" até 1984).
Desde que se reformou, em 1974, até ao final da sua vida, dedicou-se em particular à sua actividade como historiador da ciência e do ensino.
Nos últimos 10 anos da sua vida recebeu várias homenagens e condecorações.

A 19 de Fevereiro de 1997 Rómulo de Carvalho morre, na sequência de uma intervenção cirúrgica, na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Sta. Maria.

Por decisão ministerial, o dia do seu aniversário, 24 de Novembro, passou a ser assinalado como o dia da cultura científica.

Pedra Filosofal

Pedra filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956